Professor Ruy Exel Filho é Destaque Pesquisador do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas

15/09/2011 15:33

A homenagem acontecerá no dia 19 de outubro, a partir de 19h, em conjunto com a abertura do XXI Seminário de Iniciação Científica da UFSC – evento integrado à décima edição da Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (Sepex).

O gosto pelo windsurfe e a vontade de trocar a violência e a pressa de São Paulo pela tranquilidade de Florianópolis fizeram com que o professor Ruy Exel Filho passasse a prestar seus serviços à Universidade Federal de Santa Catarina. Suas pesquisas ajudaram a qualificar o Departamento de Matemática, onde é professor titular desde 1998, estudando álgebra de operadores, variedades de Heisenberg quânticas, sistemas dinâmicos quânticos irreversíveis, formalismo termodinâmico e mecânica dos sólidos.

Por conta desse trabalho, da publicação frequente de artigos em revistas científicas e da orientação a mestrandos da UFSC e a doutorandos de outras instituições, ele foi indicado pelos colegas do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM) para o Prêmio Destaque Pesquisador UFSC-2011. A homenagem acontecerá no dia 19 de outubro, a partir de 19h, em conjunto com a abertura do XXI Seminário de Iniciação Científica da UFSC – evento integrado à décima edição da Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (Sepex).

Filho de um engenheiro civil na capital paulista, Exel conta que com a idade de 10 anos ficava com o pai até a madrugada para resolver um quebra-cabeça, e não raro passava dias e dias pensando na solução de um problema difícil. “Quando encontrava a resposta, era uma coisa muito prazerosa”, recorda. Essa influência do pai pode ter sido determinante na escolha da profissão, mesmo que a família tenha, a princípio, torcido para que ele também optasse pela engenharia.

Também contribuiu para a sua escolha um professor de cursinho que lhe mostrou o mundo acadêmico, com o qual não tivera contato até então. “Isso amadureceu a ideia de me tornar matemático”, conta. Os obstáculos iniciais, na Universidade de São Paulo (USP), deram lugar a revelações cada vez mais estimulantes. Em três anos, Exel estava formado, ganhando sempre a medalha de melhor aluno. Foi para o Rio de Janeiro fazer um curso de verão no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), o que lhe permitiu o contato com professores e pesquisadores de destaque na área da Matemática.

O mestrado foi o passo seguinte, e graças a uma bolsa do CNPq ele pôde fazer doutorado na Universidade de Berkeley, na Califórnia, entre 1981 e 1985. Por meio de um acordo entre o IME-USP e o CNPq, lecionou ao mesmo tempo em que buscava o título de doutor. Depois, fez o pós-doutorado na Inglaterra, durante seis meses.

Uma guinada no departamento

O trânsito alucinado, a criminalidade e as grandes desigualdades sociais de São Paulo levaram Ruy Exel Filho a buscar uma colocação em Santa Catarina. Ele já praticava windsurfe em Ilhabela, no litoral paulista, e passava férias em Ibiraquera, no sul catarinense. Também tinha bons amigos no Departamento de Matemática da UFSC. Ao ser convidado pelo professor Celso Doria, hoje seu vizinho de sala, para dar uma palestra, ficou sabendo que seria aberto concurso para professor titular em sua área.

Mesmo tendo sido aprovado também em um concurso para professor Titular na USP, Exel decidiu vir para Florianópolis. Na época, os professores davam principalmente aulas para as Engenharias e não havia investimentos em pesquisas. “Era preciso fazer uma reformulação no departamento”, lembra. Uma das dificuldades era a biblioteca setorial, que era – e ainda é – deficitária. Ali não chegam a 20 (de pelo menos 200 revistas editadas pelo mundo a fora) as assinaturas de periódicos que divulgam as pesquisas em Matemática.

O advento da internet ajudou, porque ele passou a acessar no portal da Capes as revistas disponibilizadas de forma eletrônica. Num meio em que os esforços ainda se concentram na graduação, Ruy encontrou liberdade para montar uma equipe de pesquisa forte e ativa. O grupo de Álgebra de Operadores é um exemplo disso. No artigo “Von Neumann e a Teoria de Álgebra de Operadores”, publicado em 1996, Exel dá uma ideia do objeto de seus estudos:

“No que veio a constituir aproximadamente um terço de sua extensa lista de publicações, von Neumann desenvolveu sua teoria de operadores no espaço de Hilbert, criando assim não apenas uma nova teoria matemática, que comporta aplicações à teoria de representações de grupos infinitos e teoria ergódica, mas uma nova forma de pensamento, que permite modelar a lógica fugaz da mecânica quântica e que, com os avanços subsequentes, proporcionou uma abrangente unificação de diversos campos da Matemática. As portas abertas pelo seu trabalho continuam a provocar desenvolvimentos cruciais na fronteira da matemática dos dias de hoje”.

Base ruim, pesquisa em alta

Uma das deficiências da Matemática da UFSC é não ter doutorado, mas esse problema será solucionado com a criação do doutorado que deve receber seus primeiros alunos a partir de 2013. “Eu era contra, por falta de massa crítica suficiente, mas os últimos contratados são mais envolvidos com a atividade de pesquisa”, explica Exel, membro da Academia Brasileira de Ciências. Até lá, ele continuará dando orientação a doutorandos de fora, matriculados na USP e na Unicamp, por exemplo.

Uma das razões para a Matemática ser vista com desconfiança pelos jovens é a má qualidade do ensino elementar no Brasil, atestada pelo Programme for International Student Assessment (PISA), que avalia o nível de conhecimento matemático de alunos até os 15 anos de idade. “Houve esforços recentes para melhorar esse quadro, como as Olimpíadas de Matemática, mas ainda não apareceram resultados visíveis”, avalia o professor. Por outro lado, o International Mathematical Union (IMU), que classifica os países em cinco grupos de acordo com sua evolução nas pesquisas em Matemática, coloca o Brasil logo abaixo do grupo top (quatro), ao lado da Holanda, Espanha e Suíça e acima da Dinamarca, Portugal e Argentina.

Um ponto nevrálgico são os baixos salários e o desestímulo à carreira de professor do ensino básico. “Há pouco apelo e demanda pelos profissionais, pela inclinação materialista da sociedade, e por isso poucos se dedicam às ciências básicas”, considera Exel. Uma prova disso é baixa procura pelo curso de Matemática na UFSC. “Só pessoas idealistas, que têm vocação, é que vêm, por esta não ser uma das profissões mais rentáveis. Nas universidades o salário é relativamente bom, desde que se tenha doutorado”.

Por outro lado, o número de empregos na iniciativa privada é baixo, por causa da dependência tecnológica do país. As nações mais desenvolvidas é que mandam nesse campo. De qualquer forma, a Matemática pode ser aplicada a uma quantidade gigantesca de áreas, como a informática, as telecomunicações e processos industriais diversos. A American Telephone and Telegraph (AT&T), gigante da área das telecomunicações, costuma contratar alunos recém-formados em Matemática nos grandes eventos que realiza.

Matemática e Filosofia

No âmbito da academia, a Matemática pura envolve muitos pesquisadores, que se comunicam e se informam por meio de revistas especializadas ou pela participação em congressos internacionais. “Há uma comunidade enorme tentando resolver problemas em aberto”, diz o professor. “Os desenvolvimentos feitos numa direção ajudam a quem caminha numa direção paralela”. Ele alerta que a resolução de problemas matemáticos complexos pode ter impacto direto, por exemplo, na compreensão da estrutura subatômica da matéria, bem como na cosmologia, mostrando como funciona a atração gravitacional entre corpos celestes, além de inúmeras outras questões não resolvidas até hoje.

“Na matemática, as afirmações e resultados são absolutamente exatos, inquestionáveis, e quem é dono da versão correta tem ferramentas para convencer seu interlocutor” ensina Exel. “Isso não significa que esta seja uma disciplina estanque, porque o conhecimento da humanidade está em constante evolução”. Em inúmeras áreas, essa evolução busca soluções de caráter puramente matemático e lógico, das quais depende a busca de outros avanços, em outros campos do conhecimento. Um exemplo ocorreu na Universidade de Berkeley: a solução de um problema matemático permitiu mudar a distribuição de correspondências numa cidade, diminuindo o tempo gasto no deslocamento dos carteiros.

Há também, por parte do professor, a certeza de que a Matemática permeia todas as outras disciplinas. “Os gregos foram tão filósofos quanto matemáticos, e dá para dizer que a Matemática é um dos frutos da Filosofia”, destaca. “Platão já se perguntava sobre o que é um número e um triângulo equilátero. E grande parte do platonismo foi no sentido da busca da formulação de um universo perfeito. Já a arte tem na geometria um apoio importante, pelo uso da perspectiva. O artista gráfico holandês Maurits Escher tem a obra impregnada pela Matemática”.

Saiba Mais:

Números no Brasil

  • Cerca de mil matemáticos ativos (estimativa)
  • Cerca de 350 bolsistas de produtividade do CNPq
  • 53 membros titulares da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na área de Matemática
  • 19 membros titulares brasileiros da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS) na área de Matemática
  • Presença do Brasil no grupo 4 da International Mathematical Union (União Matemática Internacional

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Por Paulo Clóvis Schmitz /Jornalista da Agecom
Fotos: Camila Peixer / Bolsista de Jornalismo na UFSC

Saiba Mais
O Prêmio Destaque Pesquisador

O reconhecimento de docentes com elevada contribuição às atividades de ensino, pesquisa e extensão com o Prêmio Destaque Pesquisador iniciou em 2010, como uma das ações do cinquentenário da Universidade.

Em 2011, cada um dos centros de ensino da universidade foi novamente convidado a indicar um professor. A Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão sugeriu aos centros de ensino que fizessem sua seleção partindo de critérios próprios, mas também levando em conta o impacto ou o potencial de impacto das pesquisas realizadas pelo pesquisador, publicações em veículos de reconhecida excelência, a formação de recursos humanos na pós-graduação e o reflexo dos estudos no reconhecimento da UFSC como centro de excelência na área.

O objetivo da homenagem é intensificar a divulgação da produção científica e tecnológica da instituição, mostrando à sociedade quem são as pessoas que fazem com que a Universidade Federal de Santa Catarina figure entre as mais produtivas universidades brasileiras. Segundo o último ranking Webometrics, a UFSC está entre as cinco melhores universidades brasileiras, sendo a sexta na América Latina.

Pesquisadores já indicados:

Aloísio Nelmo Klein / Centro Tecnológico
Edio Luiz Petrosk /  Centro de Desportos
Eloir Paulo Schenkel / Centro de Ciências da Saúde
José Rubens Morato Leite / Centro de Ciências Jurídicas
Miguel Pedro Guerra / Centro de Ciências Agrárias
Newton Carneiro Affonso da Costa Junior / Centro Sócio-Econômico
Reinaldo Naoto Takahashi / Centro de Ciências Biológicas (CCB)
Ruth Emília Nogueira / Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Ruy Exel Filho / Centro de Ciências Físicas e Matemáticas

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